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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sou mulher e escolho ser eu: um desabafo

Certo dia tive um diálogo truncado desses que nos faz refletir por dias o porque daquele diálogo ter me afetado tanto, o diálogo iniciou-se quando mencionei que meus filhos poderiam ter os brinquedos que quisessem.  Quem estava comigo masculinamente respondeu que não, pois menino não poderia ter bonecas e nem menina carrinhos que não fosse aqueles rosa (da barbie ou da Polly) como se dissesse que há brinquedos para meninos e brinquedos para meninas.
As mulheres hoje, ocuparam espaços nunca antes ocupados e os homens passaram a dividir esses espaços com as mulheres, ao ponto de não haver uma divisão do que é de menino e do que é de menina. As mulheres aprendem a dirigir, fazem faculdade, especialização, mestrado, doutorado, compram sua própria moto, seu próprio carro, sua própria casa, viajam sozinhas, trabalham em vários empregos e assim vão desbravando o mundo. Os homens por sua vez já não as tem o tempo todo ao seu lado, a dividem com as suas rotinas lotadas e acabam tendo que aprender a cozinhar, limpar a casa e cuidar de filhos (quando elas escolhem os ter).

No meio disso tudo vejo alguns homens com identidade confundida, não sabem até onde vão, o que fazem ou o que não fazem, na hora de pagar a conta, eles não veem problemas em ter uma mulher independente ao seu lado que paga sua parte ou paga a conta inteira; na hora de lavar o carro ou a moto e abastecer eles também não veem esse problema, mas na hora de ser guiado por ela, na hora de pensar nos serviços domésticos, então jogam fora toda valorização da mulher independente... “Deixa que eu dirijo, você não sabe dirigir...somente eu sou bom nisso...você tem que aprender a cozinhar, você terá que cuidar da casa...” e etc. OU SE VALORIZA EM TODOS OS SENTIDOS A MULHER INDEPENDENTE OU NÃO SE VALORIZA!
Se fosse para eu escolher uma sociedade a viver com certeza não seria essa, é uma crise de identidade de ambos os lados. Eu sei o tipo de mulher que escolhi ser, mas a sociedade não sabe, meus pais e qualquer outros pais com certeza nunca entenderão e por mais que finjam que entendem eu sei que no fundo não admitem eu ter escolhido estudar ao invés de ficar em casa, eu ter escolhido trabalhar ao invés de ter filho, eu ter escolhido viajar para estudo ao invés de comemorar datas importantes, eu ter escolhido ficar a madrugada acordada para estudar, ao invés de dormir.
 Eu escolhi fazer pós, trabalhar, viajar, dirigir, pagar para comer uma comida caseira ao invés de fazer, eu escolhi me vestir e sair de casa para comer aquele doce que tenho vontade do que encarar o fogão e tentar fazer, eu escolhi não saber cozinhar e sonhar em ter  um escritório ao invés de uma cozinha.
Ao contrário do que a masculinidade afirma, eu não tenho o dom para a cozinha, sou tão descompassada como qualquer homem e quer saber? Eu não estou fazendo a mínima para aprender, em meio as pós da vida, minha preocupação está mais relacionada a aprender a nova gramática, a pesquisar de maneira rigorosa, a contribuir cientificamente com a sociedade, a cumprir os créditos da disciplina, a fechar meu projeto de pesquisa, a enviar trabalhos a eventos, a ter meu artigo aceito na revista renomada...
Eu não sou uma mulher desse tempo, sou moderna apesar de ser a moda antiga, apesar de carregar em mim valores cristãos e morais, há coisas em mim que não são antigas. Meus filhos brincarão com o que quiserem, se meu filho querer uma boneca ele vai ter (afinal, um dia ele poderá escolher ter filhos), se meu filho querer brinquedos que lembrem a cozinha ele vai ter (afinal, espero que se case e divida as tarefas domésticas com sua esposa), se minha filha querer carrinho ou moto de brinquedo ela vai ter (afinal, espero que tenha seu próprio meio de locomoção), se minha filha querer hominhos que lembram exército, policiais e etc ela vai ter (afinal, já existem mulheres trabalhando nessas profissões). Eu não estabelecerei limites aos meus filhos, a liberdade que eu tive de escolha (nesse sentido), eu a passarei para meus filhos.
E que a sociedade não tente tirar essa minha liberdade, dizendo que como mulher devo fazer isso, aprender aquilo, ficar em casa, lavar, passar, cozinhar, limpar e ainda para ser ideal poderei porventura trabalhar (desde que não atrapalhe os serviços domésticos) e entregar todo o meu dinheiro dentro de casa. Eu posso afirmar que escolhi ser mulher e nessa escolha eu escolhi ser eu e ignorar os preconceitos e as pré concepções estabelecidas por essa sociedade fora do meu tempo.




2 comentários:

  1. Isadora2/01/2015

    Ai Aline, sonho com um mundo onde as mulheres escolham ser elas mesmas ao invés de viver tentando se encaixar num padrão de "boa moça"! Concordo muito com seu texto.

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  2. Que um dia esse sonho se torne realidade é mais leve viver sem padrão :)

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